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Artur Dagge
Nutrimentum spiritus (Alimento para a alma) - Inscrição na Real Biblioteca de Berlim
A promoção do gosto pela leitura e da capacidade de utilização efectiva e crítica dos recursos informacionais colocados à disposição dos alunos é uma premissa que qualquer professor assume (deve assumir) como inerente ao sistema educativo. É, contudo, um reconhecimento mais virtual do que real na medida em que carece de planificação e aplicação sistemáticas e metodológicas, a única forma de se conseguir melhorar os paupérrimos resultados dos estudantes portugueses nos testes nacionais e internacionais de literacia, proporcionando-lhes os instrumentos necessários para poderem aceder, avaliar e utilizar eficazmente a informação disposta nos mais variados suportes. Tem sido prática comum na generalidade das escolas portuguesas dos ensinos básico e
secundário relegar as questões da leitura e, mais recentemente, da literacia para um grupo específico de professores como se a aprendizagem fosse o somatório da aquisição de conhecimentos em áreas científicas estanques. Por outras palavras, é aos professores de Língua Portuguesa que tradicionalmente tem sido atribuída a responsabilidade exclusiva de desenvolver nos alunos a criação de hábitos de leitura e o domínio da língua materna e, por essa via, proporcionar a aquisição de competências no domínio da literacia. Os próprios normativos legais que regulamentam a gestão curricular dos ensinos básico e secundário em nada contribuem para alterar esta realidade na medida em que não fazem referência quer à leitura, quer à literacia, limitando-se a estipular a obrigação de todos os professores se pronunciarem sobre o domínio da Língua Portuguesa de cada aluno individualmente considerado nos momentos de avaliação.
Ainda assim, esta é uma realidade que, apesar de tudo, tem vindo a apresentar ligeiras alterações, muito por força da reorganização curricular decretada em 2001, particularmente através da introdução das áreas curriculares não disciplinares do Estudo Acompanhado e Área de Projecto. Aí, uma vez que qualquer professor de qualquer área disciplinar passou também a poder ser responsável pelo Estudo Acompanhado e Área de Projecto, as questões ligadas às competências no domínio da literacia passaram a colocar-se de uma forma muito mais premente e abrangente. E ainda que a leitura e a literacia não sejam uma prioridade nos projectos curriculares e alvo de uma actuação conjunta e sistemática nas escolas portuguesas dos ensinos básico e secundário, a julgar nomeadamente pelo seu alheamento relativamente aos resultados dos estudos PISA já divulgados, a verdade é que existe um grupo tendencialmente crescente de professores que, em cada escola, tem vindo a tomar consciência da importância que a leitura e a literacia assumem na aprendizagem ao longo da vida e no exercício pleno da cidadania.
A apresentação do Plano Nacional de Leitura no passado dia 1 de Junho, Dia Internacional da Criança, só pode, pois, ser saudada com entusiasmo e desejar que venha a atingir as metas que se propõe alcançar.
Leitura e literacia: um ponto de situação
Creio que, na generalidade das escolas, as actividades desenvolvidas no âmbito da promoção da leitura e da literacia caracterizam-se pelo seu carácter pontual, não sistemático e essencialmente delineadas para preencher um plano de actividades. Não poderá afirmar- se que exista uma estratégia concertada que envolva a generalidade dos professores uma vez que, globalmente considerados, os projectos educativos não contemplam a leitura e a literacia como prioridades, nem esta temática tem sido objecto de reflexão nos vários órgãos de coordenação pedagógica: Conselho Pedagógico, Conselhos de Turma, Conselhos de Docentes, Conselho de Directores de Turma. Constitui, de alguma forma, excepção a literacia tecnológica na medida em que é oferta quase generalizada das escolas a formação na área das Tecnologias de Informação, para além do seu carácter obrigatório como disciplina autónoma nos currículos dos 9º e 10º anos de escolaridade. Assim, de uma maneira geral, as actividades desenvolvidas são da responsabilidade
conjunta das bibliotecas escolares e do departamento de Língua Portuguesa, sendo as mais comuns a organização de concursos literários, a promoção de encontros com escritores, a dinamização de clubes de leitura, a organização de feiras do livro, a exposição de trabalhos desenvolvidos no âmbito da Área de Projecto e da comemoração de datas significativas, o apoio aos alunos a nível da pesquisa bibliográfica ou a publicação de jornais escolares.
Para além do carácter pontual destas actividades, há ainda dois aspectos que condicionam sobremaneira os resultados que poderiam vir a atingir: em primeiro lugar, nos agrupamentos de escolas, estas actividades centram-se maioritariamente na escola-sede, e, na generalidade das escolas, no departamento curricular de Língua Portuguesa, por força da inexistência de uma praxis que envolva o trabalho colaborativo entre os professores, sejam eles do mesmo ciclo ou de ciclos de ensino distintos; em segundo lugar, estas actividades tendem a atrair os alunos que revelam já hábitos de leitura e competências no domínio da literacia, deixando de fora precisamente aquela franja da população escolar cujas lacunas formativas urge colmatar.
A escola, a leitura e a literacia: catalisadores e constrangimentos Vários são os aspectos que podemos identificar como facilitadores e constrangedores do desenvolvimento de actividades no domínio da promoção da leitura e da literacia, uns mais genéricos e comuns à maioria escolas dos ensinos básico e secundário, outros mais específicos e ligados à cultura própria de cada escola ou agrupamento de escolas, mas todos eles mais de natureza estrutural do que conjuntural. Esquematizados, poder-se-ão relevar os seguintes:
secundário relegar as questões da leitura e, mais recentemente, da literacia para um grupo específico de professores como se a aprendizagem fosse o somatório da aquisição de conhecimentos em áreas científicas estanques. Por outras palavras, é aos professores de Língua Portuguesa que tradicionalmente tem sido atribuída a responsabilidade exclusiva de desenvolver nos alunos a criação de hábitos de leitura e o domínio da língua materna e, por essa via, proporcionar a aquisição de competências no domínio da literacia. Os próprios normativos legais que regulamentam a gestão curricular dos ensinos básico e secundário em nada contribuem para alterar esta realidade na medida em que não fazem referência quer à leitura, quer à literacia, limitando-se a estipular a obrigação de todos os professores se pronunciarem sobre o domínio da Língua Portuguesa de cada aluno individualmente considerado nos momentos de avaliação.
Ainda assim, esta é uma realidade que, apesar de tudo, tem vindo a apresentar ligeiras alterações, muito por força da reorganização curricular decretada em 2001, particularmente através da introdução das áreas curriculares não disciplinares do Estudo Acompanhado e Área de Projecto. Aí, uma vez que qualquer professor de qualquer área disciplinar passou também a poder ser responsável pelo Estudo Acompanhado e Área de Projecto, as questões ligadas às competências no domínio da literacia passaram a colocar-se de uma forma muito mais premente e abrangente. E ainda que a leitura e a literacia não sejam uma prioridade nos projectos curriculares e alvo de uma actuação conjunta e sistemática nas escolas portuguesas dos ensinos básico e secundário, a julgar nomeadamente pelo seu alheamento relativamente aos resultados dos estudos PISA já divulgados, a verdade é que existe um grupo tendencialmente crescente de professores que, em cada escola, tem vindo a tomar consciência da importância que a leitura e a literacia assumem na aprendizagem ao longo da vida e no exercício pleno da cidadania.
A apresentação do Plano Nacional de Leitura no passado dia 1 de Junho, Dia Internacional da Criança, só pode, pois, ser saudada com entusiasmo e desejar que venha a atingir as metas que se propõe alcançar.
Leitura e literacia: um ponto de situação
Creio que, na generalidade das escolas, as actividades desenvolvidas no âmbito da promoção da leitura e da literacia caracterizam-se pelo seu carácter pontual, não sistemático e essencialmente delineadas para preencher um plano de actividades. Não poderá afirmar- se que exista uma estratégia concertada que envolva a generalidade dos professores uma vez que, globalmente considerados, os projectos educativos não contemplam a leitura e a literacia como prioridades, nem esta temática tem sido objecto de reflexão nos vários órgãos de coordenação pedagógica: Conselho Pedagógico, Conselhos de Turma, Conselhos de Docentes, Conselho de Directores de Turma. Constitui, de alguma forma, excepção a literacia tecnológica na medida em que é oferta quase generalizada das escolas a formação na área das Tecnologias de Informação, para além do seu carácter obrigatório como disciplina autónoma nos currículos dos 9º e 10º anos de escolaridade. Assim, de uma maneira geral, as actividades desenvolvidas são da responsabilidade
conjunta das bibliotecas escolares e do departamento de Língua Portuguesa, sendo as mais comuns a organização de concursos literários, a promoção de encontros com escritores, a dinamização de clubes de leitura, a organização de feiras do livro, a exposição de trabalhos desenvolvidos no âmbito da Área de Projecto e da comemoração de datas significativas, o apoio aos alunos a nível da pesquisa bibliográfica ou a publicação de jornais escolares.
Para além do carácter pontual destas actividades, há ainda dois aspectos que condicionam sobremaneira os resultados que poderiam vir a atingir: em primeiro lugar, nos agrupamentos de escolas, estas actividades centram-se maioritariamente na escola-sede, e, na generalidade das escolas, no departamento curricular de Língua Portuguesa, por força da inexistência de uma praxis que envolva o trabalho colaborativo entre os professores, sejam eles do mesmo ciclo ou de ciclos de ensino distintos; em segundo lugar, estas actividades tendem a atrair os alunos que revelam já hábitos de leitura e competências no domínio da literacia, deixando de fora precisamente aquela franja da população escolar cujas lacunas formativas urge colmatar.
A escola, a leitura e a literacia: catalisadores e constrangimentos Vários são os aspectos que podemos identificar como facilitadores e constrangedores do desenvolvimento de actividades no domínio da promoção da leitura e da literacia, uns mais genéricos e comuns à maioria escolas dos ensinos básico e secundário, outros mais específicos e ligados à cultura própria de cada escola ou agrupamento de escolas, mas todos eles mais de natureza estrutural do que conjuntural. Esquematizados, poder-se-ão relevar os seguintes:
Elementos facilitadores e Elementos constrangedores
• Existência de um número crescente de professores que se interessam e preocupam com as questões ligadas à leitura e à literacia
• Oferta de formação no domínio das Tecnologias de Informação
• Consciencialização generalizada da importância das Bibliotecas Escolares
• Valorização crescente das Bibliotecas Escolares quer por parte da tutela, quer por parte dos órgãos de gestão e administração, que se traduz na afectação de mais recursos humanos, materiais e financeiros
• Utilização generalizada das Bibliotecas Escolares por parte dos alunos
• Funcionamento ininterrupto na maioria das Bibliotecas Escolares durante todo o período de aulas, assegurando sempre a presença de pelo menos um funcionário e um professor de apoio
• Mais tempo de permanência dos professores na escola, o que se traduz em mais horas disponíveis para apoiar os alunos e a realização de actividades
• O espaço disponibilizado pelas bibliotecas escolares nem sempre é o mais adequado
• Recursos da Biblioteca Escolar reduzidos face ao número de potenciais utilizadores, nomeadamente para actualização do fundo documental
• Ausência generalizada de hábitos de trabalho colaborativo entre os professores
• Concepção tradicional da Biblioteca Escolar que enfatiza os recursos que detém e não as relações que pode estabelecer com os vários órgãos de coordenação pedagógica
• Tratamento incompleto dos catálogos, o que condiciona sobremaneira a pesquisa da informação
• Desconhecimento e reduzida utilização dos fundos documentais da Biblioteca Escolar por parte de um número significativo de professores
• Mudanças sistemáticas no sistema educativo que provocam incerteza e desmotivação crescentes junto dos professores
• Indefinição de níveis de desempenho da leitura a nível do 1º ciclo, o que faz com que muitos alunos transitem para o 2º ciclo sem um correcto domínio da leitura
• Inexistência de recursos que assegurem o apoio aos alunos com deficiente domínio da leitura para que possam adquirir essa competência básica
• Reduzido apoio por parte dos professores aos alunos na realização de trabalhos de pesquisa
• Isolamento da escola face às famílias que, na maioria dos casos, não têm consciência efectiva da
importância das questões ligadas à leitura e à literacia
Leitura e literacia: e agora?
Face ao que anteriormente ficou exposto sobre leitura e literacia, cabe perguntar: e agora?
Na tentativa de resposta a esta questão, a primeira opção poderá ser a consciencialização de que quase tudo está por fazer e, partindo desse pressuposto, procurar chamar para a causa da leitura e da literacia, numa primeira fase, todos aqueles cujas intervenções e formas de actuar revelam alguma preocupação com esta temática.
A constituição de grupos de trabalho que incluam educadores e professores do pré- escolar ao 3º ciclo, com a missão de debater e propor medidas de combate à iliteracia e à ausência do hábito de leitura de acordo com o previsto no Plano Nacional de Leitura, poderá ser o ponto de partida para a inclusão destas temáticas nos projectos educativos.
Partindo do pressuposto de que qualquer mudança na escola só poderá ser feita com os professores, o passo seguinte será naturalmente o alargamento da discussão de medidas concretas que visem a criação de hábitos de leitura e a promoção da literacia a todos os órgãos de coordenação pedagógica no início do ano lectivo, para que, nos finais de Outubro, seja possível aprovar e divulgar um conjunto de actividades que, de forma sistemática e a diferentes níveis, envolvam a globalidade dos alunos e das famílias ao longo do ano lectivo.
A constituição de uma equipa de coordenação da Biblioteca Escolar onde estejam representados os vários grupos disciplinares (Língua Portuguesa, Línguas Estrangeiras, Matemática, Ciências Físicas e Naturais, História e Geografia, Expressões Artísticas), assim como o pré-escolar e o 1º ciclo, é um passo importante no envolvimento que se pretende o mais abrangente possível pela acção que estes elementos poderão empreender junto dos órgãos de coordenação pedagógica a que pertencem. A mensagem a passar por estes professores deverá ser clara: a Biblioteca Escolar é um recurso pedagógico com o qual poderão e deverão contar na planificação das actividades que pretendem desenvolver ao longo do ano lectivo para que o envolvimento dos professores com a Biblioteca Escolar deixe de ser pontual e passe a ser feito de uma forma sistemática.
O envolvimento das famílias na promoção da leitura e da literacia deverá ser um dos grandes objectivos dos projectos curriculares e a forma de concretizá-lo passará pelo apoio prestado pelo director de turma, ou pelo professor titular de turma no caso do 1º ciclo, aos pais e encarregados de educação logo no início do ano lectivo no sentido de tomarem consciência da importância da leitura, como um fim em si mesma e não como um meio, na estruturação do pensamento, aconselhando-os nas leituras a fazer, na forma mais adequada de ajudarem os seus educandos, na organização do seu estudo... A conclusão dos catálogos e a sua disponibilização para consulta por parte dos utilizadores é um objectivo a ser concretizado no mais breve período de tempo possível por parte das equipas afectas às bibliotecas escolares. Por forma a permitir uma eficaz recuperação da informação atendendo à faixa etária da grande maioria dos utilizadores, é de especial importância assegurar uma indexação simultaneamente exaustiva e pertinente de todos os documentos. A ida à biblioteca de todos os alunos ao longo do ano lectivo para aí realizarem algumas actividades, de reduzida complexidade, no âmbito da pesquisa de informação nos vários suportes é um investimento que compensa largamente a longo prazo e poderá ser articulada com os professores de Estudo Acompanhado e Área de Projecto.
A disponibilização de horas de apoio à leitura para todos os alunos aos quais sejam diagnosticadas dificuldades no domínio da leitura logo no início do ano lectivo é provavelmente a medida mais sensata para combater a iliteracia e, consequentemente, o insucesso escolar. A realização de sessões de animação da leitura, nomeadamente em articulação com professores de Língua Portuguesa, Educação Visual, Educação Musical ou Estudo Acompanhado, deverá ser feita de forma sistemática e continuada, de forma a envolver os alunos pelo menos duas vezes por período. Deverão, por isso, ser destacados em exclusividade os elementos da equipa da Biblioteca Escolar necessários para assegurar essas actividades.
O exemplo que todos os professores (e não apenas os professores de Língua Portuguesa) deverão proporcionar aos alunos na divulgação dos livros e das leituras é essencial para que estes tomem consciência do carácter transversal da leitura em todas as áreas do conhecimento. Neste domínio, o papel da Biblioteca Escolar deve ser bipartido entre a difusão deste princípio junto dos professores e a disponibilização de documentos que estes poderão levar para as suas aulas, permitindo assegurar a presença permanente do livro nas salas de aula e o destaque do seu valor formativo/informativo.
Finalmente, aceitando-se como correcta a afirmação de que se lê pouco na escola, pelo menos em relação à leitura não escolarizada, então, tal como previsto no Plano Nacional de Leitura, é importante que se assuma a necessidade de proporcionar tempos e espaços exclusivamente dedicados à leitura desescolarizada, mas também à escrita, já que esta é simultaneamente uma consequência e um estímulo à leitura. Artur Dagge
• Existência de um número crescente de professores que se interessam e preocupam com as questões ligadas à leitura e à literacia
• Oferta de formação no domínio das Tecnologias de Informação
• Consciencialização generalizada da importância das Bibliotecas Escolares
• Valorização crescente das Bibliotecas Escolares quer por parte da tutela, quer por parte dos órgãos de gestão e administração, que se traduz na afectação de mais recursos humanos, materiais e financeiros
• Utilização generalizada das Bibliotecas Escolares por parte dos alunos
• Funcionamento ininterrupto na maioria das Bibliotecas Escolares durante todo o período de aulas, assegurando sempre a presença de pelo menos um funcionário e um professor de apoio
• Mais tempo de permanência dos professores na escola, o que se traduz em mais horas disponíveis para apoiar os alunos e a realização de actividades
• O espaço disponibilizado pelas bibliotecas escolares nem sempre é o mais adequado
• Recursos da Biblioteca Escolar reduzidos face ao número de potenciais utilizadores, nomeadamente para actualização do fundo documental
• Ausência generalizada de hábitos de trabalho colaborativo entre os professores
• Concepção tradicional da Biblioteca Escolar que enfatiza os recursos que detém e não as relações que pode estabelecer com os vários órgãos de coordenação pedagógica
• Tratamento incompleto dos catálogos, o que condiciona sobremaneira a pesquisa da informação
• Desconhecimento e reduzida utilização dos fundos documentais da Biblioteca Escolar por parte de um número significativo de professores
• Mudanças sistemáticas no sistema educativo que provocam incerteza e desmotivação crescentes junto dos professores
• Indefinição de níveis de desempenho da leitura a nível do 1º ciclo, o que faz com que muitos alunos transitem para o 2º ciclo sem um correcto domínio da leitura
• Inexistência de recursos que assegurem o apoio aos alunos com deficiente domínio da leitura para que possam adquirir essa competência básica
• Reduzido apoio por parte dos professores aos alunos na realização de trabalhos de pesquisa
• Isolamento da escola face às famílias que, na maioria dos casos, não têm consciência efectiva da
importância das questões ligadas à leitura e à literacia
Leitura e literacia: e agora?
Face ao que anteriormente ficou exposto sobre leitura e literacia, cabe perguntar: e agora?
Na tentativa de resposta a esta questão, a primeira opção poderá ser a consciencialização de que quase tudo está por fazer e, partindo desse pressuposto, procurar chamar para a causa da leitura e da literacia, numa primeira fase, todos aqueles cujas intervenções e formas de actuar revelam alguma preocupação com esta temática.
A constituição de grupos de trabalho que incluam educadores e professores do pré- escolar ao 3º ciclo, com a missão de debater e propor medidas de combate à iliteracia e à ausência do hábito de leitura de acordo com o previsto no Plano Nacional de Leitura, poderá ser o ponto de partida para a inclusão destas temáticas nos projectos educativos.
Partindo do pressuposto de que qualquer mudança na escola só poderá ser feita com os professores, o passo seguinte será naturalmente o alargamento da discussão de medidas concretas que visem a criação de hábitos de leitura e a promoção da literacia a todos os órgãos de coordenação pedagógica no início do ano lectivo, para que, nos finais de Outubro, seja possível aprovar e divulgar um conjunto de actividades que, de forma sistemática e a diferentes níveis, envolvam a globalidade dos alunos e das famílias ao longo do ano lectivo.
A constituição de uma equipa de coordenação da Biblioteca Escolar onde estejam representados os vários grupos disciplinares (Língua Portuguesa, Línguas Estrangeiras, Matemática, Ciências Físicas e Naturais, História e Geografia, Expressões Artísticas), assim como o pré-escolar e o 1º ciclo, é um passo importante no envolvimento que se pretende o mais abrangente possível pela acção que estes elementos poderão empreender junto dos órgãos de coordenação pedagógica a que pertencem. A mensagem a passar por estes professores deverá ser clara: a Biblioteca Escolar é um recurso pedagógico com o qual poderão e deverão contar na planificação das actividades que pretendem desenvolver ao longo do ano lectivo para que o envolvimento dos professores com a Biblioteca Escolar deixe de ser pontual e passe a ser feito de uma forma sistemática.
O envolvimento das famílias na promoção da leitura e da literacia deverá ser um dos grandes objectivos dos projectos curriculares e a forma de concretizá-lo passará pelo apoio prestado pelo director de turma, ou pelo professor titular de turma no caso do 1º ciclo, aos pais e encarregados de educação logo no início do ano lectivo no sentido de tomarem consciência da importância da leitura, como um fim em si mesma e não como um meio, na estruturação do pensamento, aconselhando-os nas leituras a fazer, na forma mais adequada de ajudarem os seus educandos, na organização do seu estudo... A conclusão dos catálogos e a sua disponibilização para consulta por parte dos utilizadores é um objectivo a ser concretizado no mais breve período de tempo possível por parte das equipas afectas às bibliotecas escolares. Por forma a permitir uma eficaz recuperação da informação atendendo à faixa etária da grande maioria dos utilizadores, é de especial importância assegurar uma indexação simultaneamente exaustiva e pertinente de todos os documentos. A ida à biblioteca de todos os alunos ao longo do ano lectivo para aí realizarem algumas actividades, de reduzida complexidade, no âmbito da pesquisa de informação nos vários suportes é um investimento que compensa largamente a longo prazo e poderá ser articulada com os professores de Estudo Acompanhado e Área de Projecto.
A disponibilização de horas de apoio à leitura para todos os alunos aos quais sejam diagnosticadas dificuldades no domínio da leitura logo no início do ano lectivo é provavelmente a medida mais sensata para combater a iliteracia e, consequentemente, o insucesso escolar. A realização de sessões de animação da leitura, nomeadamente em articulação com professores de Língua Portuguesa, Educação Visual, Educação Musical ou Estudo Acompanhado, deverá ser feita de forma sistemática e continuada, de forma a envolver os alunos pelo menos duas vezes por período. Deverão, por isso, ser destacados em exclusividade os elementos da equipa da Biblioteca Escolar necessários para assegurar essas actividades.
O exemplo que todos os professores (e não apenas os professores de Língua Portuguesa) deverão proporcionar aos alunos na divulgação dos livros e das leituras é essencial para que estes tomem consciência do carácter transversal da leitura em todas as áreas do conhecimento. Neste domínio, o papel da Biblioteca Escolar deve ser bipartido entre a difusão deste princípio junto dos professores e a disponibilização de documentos que estes poderão levar para as suas aulas, permitindo assegurar a presença permanente do livro nas salas de aula e o destaque do seu valor formativo/informativo.
Finalmente, aceitando-se como correcta a afirmação de que se lê pouco na escola, pelo menos em relação à leitura não escolarizada, então, tal como previsto no Plano Nacional de Leitura, é importante que se assuma a necessidade de proporcionar tempos e espaços exclusivamente dedicados à leitura desescolarizada, mas também à escrita, já que esta é simultaneamente uma consequência e um estímulo à leitura. Artur Dagge
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